A aprendizagem de qualquer modalidade esportiva deve ser feita com cuidadosa e adequada metodologia. Os preceitos da pedagogia, da didática e da psicologia devem ser empregados pelo professor na iniciação esportiva, pois está ultrapassado e há muito tempo a fase do empirismo, da auto-aprendizagem e da ausência de segura orientação na iniciação desportiva.
A literatura em língua portuguesa, apresenta-nos autores que relacionam o ensino do Futsal e do Futebol “sómente” aos fundamentos do jogo, pois a palavra fundamentos vem do latim “fundamentu” que quer dizer base, alicerce, assim, muitos profissionais de Educação Física, fieis ao significado da palavra, entendem que para a prática do jogo de Futsal e do Futebol , é necessário antes o ensino dos fundamentos, que são os elementos da técnica individual dos jogadores de linha (passes, chutes, dribles,...) e dos jogadores de gol-goleiros ( arremessos, empunhadura, quedas, ...).
A partir cultura retrogena, ainda observa-se hoje, seja nas escolas, clubes e equipes e até mesmo na literatura, a iniciação no Futsal e do Futebol é trabalhada a partir dos fundamentos, para posteriormente trabalhar-se a aplicação destes em situações de jogo. Na teoria, as técnicas são consideradas pré-requisitos para que a criança desenvolva o jogo, contudo os ensinos da técnica em algumas situações não correspondem aquelas enfrentadas pela criança no jogo.
A forma de ensino que se observa na prática é a decomposição do jogo até se chegar as técnicas (passar, chutar, driblar, etc.). Os problemas desta metodologia estão visíveis na hora do jogo, pois geralmente durante os exercícios em formação dois a dois, colunas e fileiras, o aluno não se depara com situações reais de jogo, como adversários, tempo limitado para tomar certas decisões, espaço reduzido e outras.
Neste caso, a aprendizagem é restrita a gestos automatizados em situações completamente distintas as que o aluno terá que enfrentar no momento do jogo, como oponentes, regras e limites de tempo para resolver situações de defesa e ataque. Em função desta antiga cultura, a forma de ensino que se observa na prática é a decomposição do jogo evidenciando as ações técnicas ( passar, chutar, driblar, etc.) através de educativos.
Consequentemente os famosos “educativos”, como por exemplo, no caso do voleibol a bola fixa acima da rede para a cortada, são grandes “deseducativos” para a aprendizagem inicial deste fundamento, pois preparam para uma situação estável que não existe durante o jogo propriamente dito. Assim, o sucesso nesta ação não depende somente da maneira como ela é executada (técnica), mas sim da adaptabilidade às exigências do meio.
E isto precisa ser muito praticado. Em outras palavras, o ensino da técnica em algumas situações não corresponde àquelas enfrentadas pela criança no jogo. Como o jogo de Futsal e de Futebol envolve as ações técnicas e as ações táticas, ambas devem estar interrelacionadas na sua aprendizagem. A tática do jogo de Futsal compreende os sistemas de defesa e os sistemas de ataque.
No entanto, há geralmente uma adaptação de métodos de ensino-aprendizagem da tática de outras modalidades coletivas, como handebol, basquetebol, e voleibol, para o Futsal e para o Futebol. Com a evolução dos esportes em geral, mais especificamente o Futsal eo Futebol, exige-se hoje que, no processo de formação de jogadores, se aplique uma metodologia que permita o desenvolvimento geral das ações técnicas e táticas.
Torna-se então necessário, desenvolver no jogador de Futsal e de Futebol, as capacidades cognitivas de percepção, antecipação e tomada de decisão. Pois, a capacidade de tomar decisões de forma rápida e precisa é uma das diferenças de nível entre jogadores. É necessário que a metodologia utilizada no processo de ensino-aprendizagem da tática do Futsal tenha uma aproximação com a idéia do jogo.
Toda decisão depende da percepção e antecipação de uma situação, como também da experiência específica que o atleta tem adquirido no esporte, assim, devemos propiciar aos alunos atividades semelhantes as situações de jogo. No processo de ensino-aprendizagem do Futsal e do Futebol , a criança deverá saber interpretar a situação de jogo, pois somente assim conseguirá reunir informações para chegar a melhor solução.
Quanto mais informações o professor transmitir, menos decisões a criança deverá tomar. Ensinar a técnica (fundamentos do jogo) e a tática (sistemas de defesa e ataque) separadamente, é como ensinarmos a jogar sem oportunizar a sua aplicabilidade, pois a técnica e a táticas então relacionadas. Alguns autores entendem que os gestos técnicos, não teriam a primazia no ensino, não seriam o ponto de partida.
Em contraste a esta afirmativa, outros autores, acreditam que somente com o domínio dos fundamentos a criança consiga jogar, para ele, a criança tem facilidade em aprender o Futsal e o Futebol por que desde cedo ela pratica os fundamentos do jogo. Percebe-se que este autor afirma que somente com a prática dos fundamentos do jogo a criança pratique o Futsal e o Futebol , desconsiderando que o jogo envolve as ações além das ações técnicas as ações táticas.
Para a prática de qualquer modalidade esportiva coletiva, onde há ações de intervenção externa (adversários, regras, tempos limitados para ações, etc.), as ações táticas são tão importantes como a qualidade técnica nas resoluções de problemas enfrentados durante o jogo. Sendo as ações técnicas e táticas os alicerces para que o jogo se desenvolva racionalmente, somente com a combinação destas ações nas atividades, é que poderemos desenvolver e aprimorar na criança a “capacidade de jogo”.
A metodologia de ensino-aprendizagem do jogo de Futsal e do Futebol deverá ser a partir de uma inter-relação das ações técnicas e das ações táticas, de modo a serem desenvolvidas globalmente no aluno, isto quer dizer, que a capacidade motora e a capacidade cognitiva devem ser trabalhadas em conjunto, para que o aluno desenvolva a “Capacidade de Jogo”.
As ações técnicas dependerão da capacidade motora (ritmo, coordenação e equilíbrio ) do aprendiz, e as ações táticas da capacidade cognitiva (percepção, antecipação e tomada de decisão). “Define-se “Capacidade de Jogo”, como as ações técnicas e táticas, empregadas de maneira racional durante o jogo, de modo que venha resolver, as situações e os problemas existentes no jogo, que estão em mudança permanente”.
Portanto, podemos concluir que, para o desenvolvimento da “Capacidade de Jogo”, é necessário que, a metodologia a ser empregada pelo professor, tenha uma aproximação com o jogo (situações reais de jogo). Para isto, faz-se necessário que o professor utilize-se de atividades técnico-táticas. A formação técnico-tática assume, portanto, na didática dos jogos desportivos coletivos, uma posição central.
Prof Fernando Ferretti
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